"A cantiga é uma arma"
"A cantiga é uma arma" é um exemplo do confronto ideológico que deflagrou em Portugal no pós-25 de abril de1974.
As liberdades de expressão e de pensamento conquistadas pela Revolução dos Cravos possibilitou o surgimento de forças políticas, partidos e grupos de pressão, associações culturais, onde livremente se fazia a promoção das suas ideias.
O Grupo de Acção Cultural era um agrupamento de músicos que situado ideologicamente na extrema esquerda, assumiu sempre uma postura radical na crítica a quase todas as forças políticas, desde a própria extrema esquerda à extrema direita, e, sobretudo dos partidos com representação parlamentar na Assembleia Constituinte.
Estávamos então no PREC - Processo Revolucionário Em Curso - que lançou o país num turbilhão de manifestações, de golpes e contragolpes, de atentados à bomba, raptos e assassinatos, da esquerda à direita.
A situação só viria a normalizar em novembro de 1975, quando ano dia 25 falhou o último golpe da extrema esquerda para estabelecer um regime de tipo comunista, que colocaria Portugal sob a orientação de Moscovo.
No ano seguinte seria aprovada a Constituição de 1976, com o apoio de todas as forças democráticas e moderadas. Os radicais foram, definitivamente, afastados do plano político, tanto à esquerda como à direita, e o país encetou um processo de normalização e de aprendizagem democrática.
Um processo sempre incompleto e por essa razão sempre em construção.
Nunca te esqueças que "a Democracia é o pior dos regimes com a exceção de todos os outros" (Winston Churchill), e, que por essa razão, tem de ser protegida e nutrida com
liberdade,
igualdade
e equidade,
em todos os lugares e
todos os dias!
A Cantiga é Uma Arma (1975)
Interpretação: Grupo de Ação Cultural (GAC) – Vozes na Luta
Letra: José Mário Branco
a cantiga é uma arma
eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria
há quem cante por interesse
há quem cante por cantar
há quem faça profissão
de combater a cantar
e há quem cante de pantufas
para não perder o lugar
O faduncho choradinho
de tabernas e salões
semeia só desalento
misticismo e ilusões
canto mole em letra dura
nunca fez revoluções
a cantiga é uma arma
(contra quem?)
Contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria
Se tu cantas a reboque
não vale a pena cantar
se vais à frente demais
bem te podes engasgar
a cantiga só é arma
quando a luta acompanhar
Uma arma eficiente
fabricada com cuidado
deve ter um mecanismo
bem perfeito e oleado
e o canto com uma arma
deve ser bem fabricado
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